Neste artigo você vai entender os impactos da inflação para o bolso dos consumidores.

Com a divulgação do IPCA-15 de setembro, índice que mede os preços de 15 de agosto a 15 do mês seguinte (uma proxy do que deve vir no mês cheio), o mercado amplificou a discussão sobre o fantasma inflacionário. O indicador mostrou oscilação de 1,14%, a maior para um mês de setembro desde 1994. Com isso, já há variações de 10,05%, em 12 meses, e de 7,02%, no ano.

O número é particularmente perigoso, porque estamos a discutir dissídios e contratos (aluguel e educação) no momento de maior impacto da inflação. Isso significa que o aumento dos preços pode se “esparramar” pela economia mais rapidamente e com muita capilaridade, trazendo, mais uma vez, à tona o temível conceito de inércia inflacionária.

A análise do indicador já traz, em si, dados preocupantes: dos 367 itens que compõem a cesta analisada pelo IBGE no período, 253 registraram alta. Com isso, o índice de difusão da inflação ficou em 68,9%. O número mostra que este aumento excessivo não é apenas de um ou outro produto com alta isolada de preço, em decorrência de um conflito, mas um encarecimento já difundido na economia.

Se analisarmos os grupos medidos pelo órgão, perceberemos que praticamente todos contribuíram para a alta: alimentação e bebidas (1,27%), habitação (1,55%), artigos de residência (1,23%), vestuário (0,54%), transportes (2,22%), saúde e cuidados pessoais (0,33%) e comunicação (0,02%), ao passo que apenas despesas pessoais (-0,48%) e educação (-0,01%) apontaram variações negativas.

Além de todos estes fatores revelados pelo IPCA-15, começa a ficar mais difícil a busca pela meta – não só de 2021, mas também de 2022.  A razão é que 30% dos preços do IPCA estão com elevações reprimidas. Transporte público, por exemplo, que obteve alta de apenas 3,8% nos últimos 12 meses, depende essencialmente de energia e combustível, itens que foram muito castigados por sobrepreços. Os salários do setor devem acompanhar o INPC, que está muito alto.

Comunicações registrou, em um ano, acréscimo de 0,6%, enquanto água e esgoto, que necessitam de energia elétrica, 4,64%. Além destes, planos de saúde podem rebater a queda dos custos deste ano, ao mesmo tempo que educação deve recompor o aumento de apenas 2,94% nos últimos 12 meses. Crises hídrica e política pioram o cenário. Risco de inflação fora da meta para o ano que vem é real.

Neste contexto, em última reunião do Copom, os diretores resolveram subir a taxa Selic em mais 1 ponto porcentual (p.p.), atingindo 6,25%. A ideia predominante no mercado é que o Banco Central (Bacen) já esteja de olho em 2023 para manter a inflação dentro da meta – e não mais em 2022. Além disso, a autoridade monetária revelou que vai subir mais um 1 p.p. em novembro, elevando a taxa a 7,25% – e, provavelmente, mais um ponto em dezembro, terminando o ano em, no mínimo, 8,25%.

A despeito da possibilidade de haver um arrefecimento no preço das commodities e do efeito desse aumento de juros ainda não acontecer na economia – vez que estudos mostram que o acréscimo só se faz sentir de seis a nove meses, o quadro é preocupante.

Um dos canais de esmorecimento da inflação via juros, a valorização do câmbio, parece não funcionar a contento. O aumento do diferencial de juros com o resto do mundo deveria atrair capital e valorizar o câmbio – e este, mais baixo, favorecer a queda da inflação. O problema é que o câmbio insiste em ficar entre R$ 5,20 e R$ 5,50.

A análise deste fenômeno fala muito sobre a apreensão com o processo inflacionário: o dinheiro de outros países não vem para o Brasil, porque o risco de investir aqui está aumentando. Incertezas fiscais e políticas afastam o capital estrangeiro e estimulam ainda mais a alta dos preços, sem contar que amargam ainda mais a dose do remédio, que é a necessidade de trazer recessão à economia para barrar a inflação.

O trabalho para debelar o processo inflacionário é árduo e complexo. Deixar que o Bacen o faça sozinho sobrecarrega a instituição e o peso que todo este processo trará, principalmente, para os mais pobres. É urgente e necessário que se tenha uma política fiscal transparente, séria e consistente, a fim de diminuir o nível de juros necessário à estabilização.

Fonte: Contábeis

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